quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Carta do índio Seattle para o Presidente dos Estados Unidos

Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao Presidente dos Estados Unidos- Francis Pierce, depois de ter conhecimento que o governo pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios.Já passaram mais de 150 anos, mas tem uma extraordinária actualidade.

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra.
Assegurou-nos também a sua amizade e benevolência.Isto é gentil da sua parte,
pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade.Nós vamos pensar na sua
oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e
tomará a nossa terra.O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano.
Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?Tal ideia é estranha.Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água.Como pode comprá-los de nós?
Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo.Toda esta terra é sagrada para o meu povo.Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insectos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver.
Para ele um torrão de terra é igual ao outro.Porque ele é um estranho ,que vem de noite, e rouba da terra tudo quanto necessita .

A terra não é sua irmã, nem sua amiga,e depois de exauri-la vai-se embora.Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos.Rouba a terra de seus filhos, nada respeita.Esquece os antepassados e os direitos dos filhos.
Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos.
Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco, nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insectos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos.
E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite?
Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho de água e o próprio
cheiro do vento, purificado pela chuva do meio dia e com aroma de pinho.
O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, homens , animais e plantas.
Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira, como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro .
Se  eu me decidir a aceitar, imporei uma condição:o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma.
Vi milhares de bisontes apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem.
Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisonte, que nós, peles vermelhas , matamos apenas para
sustentar a nossa própria vida.
O que é o homem sem os animais?
Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afectar os homens.
Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota.Os nossos guerreiros
sucumbem sob o peso da vergonha, e depois da derrota  passam o tempo em ócio
 e envenenam o corpo com  alimentos adocicados e bebidas ardentes.
Não tem grande importância onde passaremos nossos últimos dias, eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou vagueiam em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos; um povo que um dia foi
tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Uma coisa sabemos , que o homem branco venha a descobrir um dia que o nosso
Deus é o mesmo Deus.
Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira  que deseja possuir a nossa terra.Mas não pode. Ele é Deus de todos.Ama tanto o homem vermelho  como o homem branco.A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é mostrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças.
Continua sujando a sua própria cama e há-de morrer sufocado nos próprios dejectos.,
Depois de abatido o último bisonte e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem a gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões?Terão acabado.
E as águias? Terão ido embora.Restará dizer adeus à andorinha da torre e à caça;
o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com  que sonha o homem branco se soubessemos
quais as esperanças que transmite a seus filhos, quais as visões de futuro que oferece para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã.
Mas nós somos selvagens, os sonhos do homem branco são ocultos para nós.
E por serem ocultos temos de escolher o nosso próprio caminho.
Se consentirmos na venda, é para garantir as reservas que prometeram, lá talvez possamos viver nossos ultimos dias como desejamos.
Depois que o último homem vermelho tenha partido, a sua lembrança não passará de sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias.A alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém nascido ama o bater do coração de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos.Protege-a como nós a protegíamos.Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse.
E, com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserve-a para os seus filhos, e ame-a como Deus nos ama a todos.
Uma coisa sabemos:o nosso Deus é o mesmo Deus.Esta terra é querida por Ele.Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."