segunda-feira, 21 de maio de 2012

Autobiografia -Nicolau Tolentino (1741-1811)

Entre faixas de pobreza
meus tristes pais me envolveram.
Desde então, em crua empresa,
contra mim as mãos se deram
a fortuna e a natureza.

Da terna mãe abraçado,
fui em silêncio profundo
com triste pranto banhado:
já antevia que o mundo
tinha mais um desgraçado.

Meu bom pai debalde quis
enxugar-lhe o pranto ardente,
que ela , alçando-me, me diz:
-"Vem,ó vítima inocente
dum amor casto e infeliz!

Toma os tristes cabedais
em que teu fado te lança;
toma pranto e inúteis ais;
entra na funesta herança
de teus desgraçados pais!"
   (Nicolau Tolentino)