Por quem os sinos dobram
"Nenhum homem é uma ilha isolada;
cada homem é uma partícula do continente, uma parte da Terra;
se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída,
como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus
amigos ou a tua própria;a morte de qualquer homem diminui-me,
porque sou parte do género humano.E, por isso, não perguntes
por quem os sinos dobram;eles dobram por ti."
(John Donne)
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
domingo, 28 de agosto de 2011
O Mostrengo
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?
E o homem do leme disse tremendo:
El-Rei Dom João II!
De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso:
Quem vem poder o que eu só posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?
E o homem do leme tremeu e disse:
El-Rei Dom João II!
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse ao fim de tremer três vezes
Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que éteu
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade que me ata ao leme,
De El-Rei Dom JoãoII!
(Fernando Pessoa-Mensagem)
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?
E o homem do leme disse tremendo:
El-Rei Dom João II!
De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso:
Quem vem poder o que eu só posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?
E o homem do leme tremeu e disse:
El-Rei Dom João II!
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse ao fim de tremer três vezes
Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que éteu
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade que me ata ao leme,
De El-Rei Dom JoãoII!
(Fernando Pessoa-Mensagem)
Fala do Homem nascido
Venho da Terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
Tenho pressa de viver.
Com licença!Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença!Com licença!
Com rumo à estrela polar.
(António Gedeão)
Venho da Terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
Tenho pressa de viver.
Com licença!Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença!Com licença!
Com rumo à estrela polar.
(António Gedeão)
Poema do gato
Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?
Sempre que pode
foge para a rua
cheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre gato!)
mia com raiva
desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.
Quando abro a porta corre pra mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,abre as narinas,
e rosna,
rosna, deliquescente,
abraça-me
e adormece.
Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?
(António Gedeão)
Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?
Sempre que pode
foge para a rua
cheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre gato!)
mia com raiva
desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.
Quando abro a porta corre pra mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,abre as narinas,
e rosna,
rosna, deliquescente,
abraça-me
e adormece.
Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?
(António Gedeão)
Pedra filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro,canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor,passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
(António Gedeâo)
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro,canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor,passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
(António Gedeâo)
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio,
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
(António Gedeão)
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio,
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
(António Gedeão)
Poema do homem só
Sós,
irremediàvelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros não se explicam:
arrefecem.
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de dentro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém,
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços,
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concentro,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce.
virgem de mal e de bem
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se,
é só nosso, de mais ninguém.
(António Gedeão)
Sós,
irremediàvelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros não se explicam:
arrefecem.
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de dentro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém,
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços,
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concentro,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce.
virgem de mal e de bem
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se,
é só nosso, de mais ninguém.
(António Gedeão)
Que de mim?
Em quê de mim, as diferentes
coisas que vejo, me tocam?
Em quê de ser eu provocam
excitações tão frementes?
Que coisa de mim se enleia,
que permanência me afirma,
que sentido faz sentir-ma
no espaço que me rodeia?
Que linhas de força estranha
me prolongam na paisagem,
me tornam, à sua imagem,
mar ou céu, vale ou montanha?
Que fluidez dissolvente
os meus olhos humedece
quando o Sol desaparece
nas angústias do poente?
Que de mim também se afoga
nesse horizonte distante,
murmúrio de agonizante
que em tons roxos se interroga?
Que de mim chove na chuva,
e se abre nos tons da aurora?
Que de mim nas flores se inflora
e nas tardes se enviúva?
Ó estrelas do céu sem fim!
Ó vagas do mar sem fundo!
Será tudo mesmo assim?
Eu e vós, partes do mundo?
Ou o mundo parte de mim?
(António Gedeão)
Em quê de mim, as diferentes
coisas que vejo, me tocam?
Em quê de ser eu provocam
excitações tão frementes?
Que coisa de mim se enleia,
que permanência me afirma,
que sentido faz sentir-ma
no espaço que me rodeia?
Que linhas de força estranha
me prolongam na paisagem,
me tornam, à sua imagem,
mar ou céu, vale ou montanha?
Que fluidez dissolvente
os meus olhos humedece
quando o Sol desaparece
nas angústias do poente?
Que de mim também se afoga
nesse horizonte distante,
murmúrio de agonizante
que em tons roxos se interroga?
Que de mim chove na chuva,
e se abre nos tons da aurora?
Que de mim nas flores se inflora
e nas tardes se enviúva?
Ó estrelas do céu sem fim!
Ó vagas do mar sem fundo!
Será tudo mesmo assim?
Eu e vós, partes do mundo?
Ou o mundo parte de mim?
(António Gedeão)
Tudo é foi
Fecho os olhos por instantes,
Abro os olhos novamente,
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.
Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.
Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia;
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.
Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presença, espectro da ausência,
cadáver desenterrado.
Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi.Nada acontece.
(António Gedeão)
Fecho os olhos por instantes,
Abro os olhos novamente,
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.
Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.
Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia;
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.
Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presença, espectro da ausência,
cadáver desenterrado.
Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi.Nada acontece.
(António Gedeão)
Quando eu for grande
Ó mãe,
Quando for grande,
Hei-de agarrar aquela estrela além,
A mais pequenina,
Que treme de medo por cima do Forte
De Santa Catarina;
Tadinha da estrela, ó mãe!...
Faz-lhe medo o mar,
Sempre a ralhar, sempre a ralhar...
Quando for grande,
Hei-de pedir às ondas barulhentas
Que batam devagar,
Devagarinho
Devagarinho como a tua voz
A adormecer o teu menino...
Olha, vê,
Não chego à estrela, não
Sou pequenino;
Quando for grande,
(Amanhã já sou grande mãe?...),
Vou no barquito do "Pereirão" de Buarcos,
E bato no mar
Até ele chorar...
E a estrela , sem medo,
Há-de deixar-se agarrar,
Porque eu sou grande,
Bati no mar!...
Quando fores rezar
À capela do Forte
Hei-de ir de mansinho,
Mais de mansinho que as ondas a chorar,
E ponho a estrela pequenina
No teu cabelo...
Hás-de parecer a Santa Catarina,
Inda mais linda!...
Depois fujo a buscar mais estrelinhas
Medrosas
E atiro-as às redes
Dos pescadores pobrinhos;
Tás a chorar?!...
Aquela estrela não é linda se calhar...
Deixa lá, mãezinha;
Quando for grande,
Levo-te ao céu e escolhes uma maiorzinha...
(Amanhã já sou grande, mãe?...)
(Maria Almira Medina)
Ó mãe,
Quando for grande,
Hei-de agarrar aquela estrela além,
A mais pequenina,
Que treme de medo por cima do Forte
De Santa Catarina;
Tadinha da estrela, ó mãe!...
Faz-lhe medo o mar,
Sempre a ralhar, sempre a ralhar...
Quando for grande,
Hei-de pedir às ondas barulhentas
Que batam devagar,
Devagarinho
Devagarinho como a tua voz
A adormecer o teu menino...
Olha, vê,
Não chego à estrela, não
Sou pequenino;
Quando for grande,
(Amanhã já sou grande mãe?...),
Vou no barquito do "Pereirão" de Buarcos,
E bato no mar
Até ele chorar...
E a estrela , sem medo,
Há-de deixar-se agarrar,
Porque eu sou grande,
Bati no mar!...
Quando fores rezar
À capela do Forte
Hei-de ir de mansinho,
Mais de mansinho que as ondas a chorar,
E ponho a estrela pequenina
No teu cabelo...
Hás-de parecer a Santa Catarina,
Inda mais linda!...
Depois fujo a buscar mais estrelinhas
Medrosas
E atiro-as às redes
Dos pescadores pobrinhos;
Tás a chorar?!...
Aquela estrela não é linda se calhar...
Deixa lá, mãezinha;
Quando for grande,
Levo-te ao céu e escolhes uma maiorzinha...
(Amanhã já sou grande, mãe?...)
(Maria Almira Medina)
terça-feira, 23 de agosto de 2011
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
GLÁDIO
Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
As horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
A esta febre de Além que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.
(Mensagem- Fernando Pessoa- 1913)
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
As horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
A esta febre de Além que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.
(Mensagem- Fernando Pessoa- 1913)
"Iniciaçãओ"
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo
... ... ... ... ... ... ...
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser,
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu,
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
(...)
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte,
Não śtás morto, entre ciprestes.
... ... ... ... ... ... ...
Neófito, não há morte.
(O Rosto e as Máscaras-Fernando Pessoa-1932?)
Pois não há sono no mundo
... ... ... ... ... ... ...
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser,
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu,
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
(...)
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte,
Não śtás morto, entre ciprestes.
... ... ... ... ... ... ...
Neófito, não há morte.
(O Rosto e as Máscaras-Fernando Pessoa-1932?)
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