Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo
... ... ... ... ... ... ...
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser,
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu,
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
(...)
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte,
Não śtás morto, entre ciprestes.
... ... ... ... ... ... ...
Neófito, não há morte.
(O Rosto e as Máscaras-Fernando Pessoa-1932?)