quinta-feira, 4 de julho de 2013

Eça de Queirós - Crise política de 1872

"Nós estamos num estado apenas comparável à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesma baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito.Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se fala num pais caótico e  que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se , em paralelo, a Grécia e Portugal."
                                                                  ( Eça de Queirós- As Farpas)


"Em Portugal não há ciência de governar, nem há ciência de organizar a oposição. A ciência de governar é , neste país, uma habilidade, uma rotina do acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.A política é uma arma em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias.Todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos querem penetrar na arena, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis de gozos da vaidade.."
                                          ( Eça de Queirós  in.Distrito de Évora há 146 anos)

Em 1867 teceu o elogio, que se segue, aos ministros da época:

"Ordinàriamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas.Porém são nulos a resolver crises, não têm austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA.É assim que há muito tempo, em Portugal são regidos os destinos políticos.Política de acaso, política de compadrio, política de expediente.País governado ao acaso.Governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência da camarilha, será possível conservar a sua independência?"
E continua :

"Os políticos e as fraldas devem  ser mudados, frequentemente, pela mesma razão."

ou ainda

"Este governo não cairá porque não é um edifício.Sairá com benzina porque é uma nódoa."

e continua em 1891 in "Correspondência"

"Que fazer perante esta drama?
Que esperar desta profecia?
Portugal tem atravessado crises igualmente más - mas nelas nunca nos faltaram  nem homens de valor
e carácter, nem dinheiro ou crédito.
Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política.
De sorte que esta crise  me parece a pior  -   e sem cura."
              (Eça de Queirós)